quarta-feira, 6 de junho de 2012

Concerto dissonante

Por Genildo Costa*.

Nunca fui de subestimar os ensinamentos de nossos sábios pensadores. Eles, sem dúvida, não morreram de overdose pelo poder. Estiveram sempre atentos e quando saíram de cena deixaram a tolerância, a humildade e o amor ao próximo como parâmetros indispensáveis para a formatação do processo civilizatório. Creio que houve tempo de sobra para a partir desses ensinamentos celebrar com sucesso o inevitável espetáculo da vida.

Tenho tido basicamente prudência para não me tornar intransigente e nem tampouco criatura de múltiplas facetas. Creio que é possível ter o mínimo de compreensão quanto a nossa milenar tarefa de continuar acreditando numa nova proposta de humanidade onde a vida possa ser contemplada em toda sua plenitude.

Como seria então o conteúdo programático dessa nova empreitada? Imagino como haveria de ser reinventar essa possibilidade de não mais ter que sacrificar o outro quando da busca de nossas comodidades. Penso que buscar subsídios para reencontrar-se pela palavra é simplesmente correr o risco de ser reincidente. O que se propõe é muito mais que uma releitura de tudo que aprendemos no curso de nossas vidas. O expediente de agora é de profunda perplexidade. É o devir, o ajustar-se, o não ser mais. O que nos aguarda pode ser a última oportunidade reservada para o exercício urgente da depuração.


Os que antecederam o estágio superior da barbárie, todos saíram de cena. Alguns esporadicamente lembrados enquanto outros há tempos transitam pelos corredores do ostracismo. Mas sem dúvida não se negaram a se expor com suas ideias. Fizeram-se homens. Pagaram um preço muito alto por saber definir critérios que os levariam a outros parâmetros de civilidade, de convivência humanitária. Alguns desses renomados pensadores construíram a vanguarda da manutenção do status quo e a defesa intransigente da perpetuação da ordem.

E sob essa cortina de aparente normalidade está o antagonismo de interesses, ou seja, o conflito motor da história, que sendo peça fundamental desse imenso teatro onde a cada um é atribuído um papel, haverá de ser sempre nosso companheiro inseparável. Que seja então a nossa teimosia um mal necessário. Não tenho dúvida de que vamos ter que aprender um pouco mais para não cair nas mesmas contradições nem cometer os mesmos equívocos.

Muito oportuno a nossa quase permanência diária de se ver. De aproveitar o Estado Democrático de Direito com serenidade e elegância até. Imagino que as palavras não são tão ácidas, apenas carregam consigo a ternura de alguns descaminhos que certamente nunca vou ter o privilégio e a alegria de refazê-los. Não tenho pressa. Ando taciturno e não perdi absolutamente nada. Tudo outra vez sem ter que minimizar o tamanho do entusiasmo que tenho sempre quando vejo passar em pesadelos todos os dobrados e dissonantes da banda de minha revolução.

*Genildo Costa é poeta, cantor e compositor.

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