Por Genildo Costa.
Seria muita pretensão afirmar que estamos vivendo, plenamente, numa fase de reconhecimento e de valorização de nossos artistas. Tenho tido todo zelo e, sobretudo, muito cuidado, quando o assunto diz respeito as nossas aspirações. Pois bem, o retrato mais visível dessa nossa peleja se espraia pelas ruas, becos e vielas e agoniza,muitas vezes,no corredor de nossas angústias e medos.
Tenho alcançado,talvez,mais longe que os olhos. Que não seja privilégio de alguns poucos, pois, a nossa culpa,nossa máxima culpa é quem nos coloca diante do espelho para uma possível leitura do nosso ofício de construir, através das palavras, a nossa identidade de cantador, poeta e sonhador de sonhos possíveis.
Quando a fala dominante, ou seja, a retórica de nossos gestores consegue viabilizar o consenso de seu projeto de cidade sem que tenhamos acesso ao debate público é sinal de que não só os artistas mas todos os segmentos que fazem parte da cidade são penalizados.
Historicamente, o nosso contexto artístico cultural vem adotando,para cada página desse nosso diário,comportamento que até então se perpetua e, por incrível que pareça, não se tem notícia de resistência alguma com relação a tais procedimentos. Seríamos nós (artistas) destituídos totalmente de idéias e de sentimentos? Será que somos, simplesmente, retardatários de uma peça constituída de elementos que foram lapidados pela nossa submissão???
Penso que da forma que foi elaborado não nos cabe,evidentemente, nessa teia de relação tão desigual. Perde os mais fracos e sobrevive muito bem os que são legitimados pela indústria cultural, que se impõe e deixa seqüelas aos nossos irmãos compatriotas da terra de Santa Luzia.
Nessa briga que se instala de forma perversa na arena de tanta competitividade, lamentavelmente, ainda são poucos os que não pactuam com a leviandade,com a pseudoideia de que o palco, depois de muito bem projetado, possa servir, apenas aos urubus de plantão que nos roubam a paciência e deixam para o dia seguinte o lixo da insensatez e da intolerância.
Quanto mais tentamos acertar o passo rumo à consolidação de nossos projetos, mais adotamos o discurso da individualidade. Por tudo isso, paga-se um preço muito alto dessa nossa ausência de companheirismo e de respeito aos nossos ilustres parceiros. Se não sentarmos um dia para afinarmos os nossos instrumentos num mesmo diapasão, sem sombra de dúvida, não vamos estar juntos para o mesmo espetáculo porque todas as luzes estarão apagadas...e assim sucumbirá todos nós.
Genildo Costa é cantor e compositor.
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