sexta-feira, 29 de julho de 2011

Mércia Ivánovna

Por Bruno Sérvulo*

...vive o princípio da vaidade. E como clássica vaidosa se alegra; deleita-se em cada opinião boa que ouve sobre si. Independente de qualquer ponto de vista de utilidade que esse elogio possa lhe trazer e também, muitas vezes, não considerando se o é falso ou verdadeiro. Assim como sofre de cada opinião ruim. Pois se submete a ambas. Eis, um claro vestígio de escravidão.

- Os seus olhos. Ah, os seus olhos, Mércia Ivánovna! Outrora tão brilhantes e místicos, hoje, mais parecem um lago liso e relutante, no qual já não ondula um só encanto,uma só simpatia. Como nas analogias do Boff, as águias se transformam em galinhas.Abandonas-te os perigos de voar alto. Abdicou, de estar nos elevados montes e ver mais e mais coisas abaixo de si.
Limitou-se a poucos pulinhos em companhia de vários sem noção que pulam e berram para aparecer. E aparecem, exatamente por cotidianamente berrarem e pularem.

Ditas estas! E supondo-se que desde já se saiba que se tratam apenas de verdades
minhas, confesso: todo o contrário seria antes do meu agrado. Fica bem...

                                                                                            Ethiel Ariza Teaupo

Nesse momento, completamente exausto, Ethiel Ariza deixou cair o pincel sob a
folha e olhou profundamente para o nada. Coisa estranha: parecia que de repente, se apoderará dele uma tranqüilidade absoluta, não se encontrava no estado de “semi-delírio” como antes, nem de pânico como nos últimos tempos. Era esse o seu primeiro momento de rara e repentina serenidade.

Havia bastante tempo que não escrevia. Algo nele criava uma barreira entre o
pensamento e a palavra. Em sua cabeça os textos lhe surgiam, os mais virtuosos e incríveis. Todos devidamente esquematizados, parágrafos, idéias... até chegar ao papel um longo caminho precisava ser percorrido. Nesse dia ele percorreu.

Quando retomou o rumo de seus pensamentos observou que havia passado tempo
por demais ali. Notou que no canto direito de sua boca ironicamente havia se formadoum sorrisinho, no qual transparecia uma nova e irritante impaciência.

*Bruno Sérvulo Costa Leite é estudante de turismo da Uern.

Leia também: "O espantalho".

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