domingo, 21 de agosto de 2011

Desigualdade














Por José Ribamar*

No vigésimo andar
Dum prédio de luxo,
Tirado dos sonhos
Da sociedade,
Num leito de culpas
Dorme um avarento
Respirando pura
Luxuosidade.

No térreo do prédio,
Do lado de fora,
Entregue ao descaso,
Exposto à maldade,
Cochila um mendigo
Nos braços da fome,
Nascida do ventre
Da desigualdade...

O dia amanhece,
O mendigo foge
Com medo do braço
Da hostilidade,
Deixando sinais
De um trapo de vida
Vivida sem chance
De dignidade...


Mais tarde, sem pressa,
Desce o opulento
E, pedantemente,
Sai pela cidade
Trajado a rigor,
Sentindo-se rei,
Direcionado
Pela vaidade.

No seu escritório
Adentra sisudo,
Espalhando um ar
De autoridade...
Banha de assédios
Quem ganha um salário
Pra lhe dar nas mãos
O que tem vontade.

À noite retorna
Ao céu dos humanos,
Pensando que mora
Num céu de verdade...
Mais tarde retorna
Também o mendigo,
Ainda suprido
De necessidade.

Mas depois que ambos
Partirem da terra
Terá outra face
A realidade:
Será do mendigo
O vigésimo andar
E o avarento
Terá que ficar
No térreo do prédio,
Na eternidade.

* José Ribamar é poeta, repentista e cordelista. Esta poesia foi retirada do seu livro "Espelho de Carne e Osso" publicado pela editora Queima-Bucha.

Nenhum comentário: