A educação potiguar adentrou mesmo numa "Era das Trevas". O sinal mais contundente desses tempos sombrios foi anunciado pela própria governadora durante a Ficro. Mostrando-se um pouco exaltada, ela insinuou no seu discurso que manter a UERN custa muito "caro" aos cofres públicos. Uma demonstração inequívoca do tipo de política educacional que o estado pretende levar adiante. Por esta orientação, a educação no RN deve definhar ainda mais nos pŕoximos anos, penalizando severamente a sociedade com o alto preço da ignorância. A relação que existe entre essa concepção reacionária e os prejuízos para a população foi muito bem destacada pelo jornalista Crispiniano Neto no artigo que reproduzo a seguir:
Só acha que custa caro gastar com educação quem não entende o custo da ignorância (extraído da coluna "Prosa e Verso" do De Fato)
Por mais respeito que possamos e devamos ter pela governadora Rosalba Ciarlini, não dá para engolir calado o seu "palpite infeliz" quanto ao fato de a Uern "custar" 500 mil reais por dia. Primeiro, a ideia de "custo", quando se fala de Educação, Saúde ou Segurança, é uma aberração. Essas políticas públicas são consideradas serviços essenciais, portanto, deveres do Estado, até mesmo pelos neoliberais mais empedernidos dos segmentos mais direitistas do seu farisaico DEM. Educação é investimento. Isso está em qualquer cartilha de ABC de educação política. Uma chefa de Estado se lamuriar de público pelos "custos" de uma universidade é doloroso. Pior ainda é saber que ela, a governadora, é chanceler dessa instituição que, dos seus duzentos e poucos dias de governo, está há mais de cem em greve, sem que ela demonstre a menor preocupação por isso. Age como que anestesiada, diante da dor pública.
Alegar a crise é outra estupidez. Sempre se disse que o maior problema do Brasil é a Educação deficiente. E se o Brasil não é hoje a potência que vem demonstrando ter condições de sê-lo, é tão somente pela falta de cuidado com a educação nos tempos em que fomos governados pelos ancestrais e aliados do DEM e pelo PSDB, na ditadura e na Nova República. Quem nomeou ministros da Educação, como Carlos Chiarelli, Marco Maciel, Jarbas Passarinho e Ester de Figueiredo Ferra, deveria estar na cadeia. Quando a governadora fala de crise como desculpa para não investir mais em educação, deveria parar para ouvir Howard Stevenson, diretor sênior associado da Harvard School of Business. Ele tem um argumento demolidor para defender o investimento em educação: o custo de não fazê-lo. Assim ele questiona: Tempos de crise são tempos de investir em educação? Há uma expressão em inglês: "Se você acha que o custo da educação é alto, tente o custo da ignorância." E insiste: O mundo não pode se dar ao luxo de ter 70% da população na ignorância. Se você está sem trabalho, o custo de oportunidade da educação é muito menor. Compreender o futuro exige um investimento em educação. Qual é o cenário do futuro? O futuro desastroso de uma cidade governada por Rosalba Ciarlini já está aí: mais de 40 mil analfabetos em Mossoró, um déficit habitacional de mais de 20 mil residências, mais de sessenta favelas, ou, como queiram chamar, "assentamentos urbanos precários", uma zona rural que, quando se sai da Califórnia que se irriga e se tecnifica por conta própria, se entra numa Somália que, por depender do poder público, não sai da miséria. Uma Mossoró com 138 crimes de morte em sete meses, com mais de mil acidentes de trânsito neste mesmo período. Uma Mossoró, enfim, que fecha oito hospitais em seis anos e que vê o bangue-bangue tomar conta das ruas, sem qualquer resposta oficial, e que no campo da educação vê a universidade que forma seus professores de toda a rede estadual, municipal e mesmo privada se arrastar, relegada ao abandono, ao desprezo e - por que não dizer - à perseguição mesmo de um governo, cuja titular é filha da terra. E até se acha mãe. A governadora deveria se fazer uma outra pergunta: Quanto custa a família Rosado por dia aos cofres públicos? Quando há mais de trinta anos Rogério Cadengue fez esse levantamento para a revista IstoÉ, acreditava-se em um milhão de dólares mensais. E hoje, que o processo de estatização familiar cresceu em progressão geométrica, entre parentes e aderentes? Basta lembrar que Dix-huit deixou a Prefeitura com 600 DAS e que hoje eles são 2.400. De modo que a preocupação da governadora com o custo de Uern virou assunto nacional no twitter, porque lembra Noel Rosa: "Quem é você que não sabe o que diz? Meu Deus do Céu, que palpite infeliz!".
Crispiniano Neto é poeta, jornalista e editor da coluna Prosa e Verso do Jornal de Fato.
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