(Texto dedicado ao imperativo das vozes que se fez juventude).
Há quem diga que sob às luzes de neon tudo anda conforme o combinado. Evidentemente, que não se faz necessário se apropriar de tratados filosóficos e, nem tampouco, dos clássicos da nossa literatura política para emitir opinião acerca de nossas verdades.
Não tenho dúvida de que ainda permanecemos os mesmos segundo o pacto que estabeleceu normas para que chegássemos a alcançar o mínimo de civilidade. Não carece de explicação quando o tema é conviver socialmente. Basta-nos levar em consideração o esforço que foi realizado para que pudéssemos, então, imprimir os caracteres mínimos responsáveis por essa vida de liberdade civil vigiada.
Por mais que tentemos compreender, verdadeiramente, os diferentes estágios dessa peleja de se tentar humanizar para uma relação de cordialidade e de respeito mútuo, mais estou convicto de que perdemos uma grande oportunidade de nos tornarmos plenamente viáveis.
Acredito que muito antes de aflorar a dúvida cartesiana já havíamos, timidamente, dado alguns passos rumo ao que denominamos hoje de humanização. Lembro-me bem dos primeiros ensinamentos, dos primeiros ensaios, das primeiras conversas pautadas em citações do universo marxista. Lembro-me também de nossa ingênua tarefa de acreditar no discurso polido, austero e comovente.
A memória ainda me reserva os traços mais significativos de uma performance de profunda ruptura com o modelo de sociedade, que ora apresenta sinais de esgotamento nas suas relações de produção e consumo. Era como se veredas e caminhos da Sierra Maestra apontassem horizontes. Até então,se sabia muito pouco quem iria, sabiamente, saltar desse eterno estado de hipnose para,conscientemente,construir as bases necessárias de uma sociedade de inclusão e,acima de tudo,sustentável.
Às vezes tenho impressão que realmente estou divagando. Talvez, quem sabe, no banco de trás de uma locomotiva que não mais retornará à sua estação primeira. Nessa lotação, alguns retardatários, outros despercebidos e aqueles mais atentos não conseguiram resistir ao painel da sedução do consumismo. Já os mais apressados alcançaram com elegância e sabedoria o ajuste precoce aos princípios que orquestram a sonata da normalidade.
É sabido que para trás ficou a inquietação, o sonho não materializado de Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Paulo Freire, João Amazonas, Dom Hélder Cãmara, Frei Tito, os desaparecidos do Araguaia, que a força bruta silenciou, enfim, a dor do exílio, que até os dias de hoje permanece e transita, inexoravelmente, no dia-a- dia dos que ficaram para a retomada da luta revolucionária.
A pátria chora demasiadamente em saber que poucos foram os filhos que não fugiram à luta. Poucos foram os que não se deixaram ser cooptados pela tirania da burguesia gerenciadora do capitalismo selvagem. Ouço vozes e não consigo entender quase nada desse novo canto. Dessa sonata que avança o sinal vermelho e impõe às ruas palavras de ordem que não esqueço jamais:”Polícia pra ladrão; pra estudante, educação”
Genildo Costa é poeta e cantador.
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