Nos tempos da ditadura, qualquer manifestação artística ou cultural poderia ser proibida se o governo a considerasse uma ameaça em potencial ao regime de exceção. Dessa forma, simples ações como cantar e recitar poesias em local público corriam o risco de cair na malha fina da censura estatal. Os artistas que se atreviam a decantar sua arte pelas ruas eram muitas vezes rotulados de "subversivos", ou seja, perturbadores da ordem pública.
No último domingo (13/03), Mossoró recriou em parte as lembranças desse passado sombrio. Ao tentarem celebrar o dia nacional da poesia na maior feira livre da cidade, os membros da POEMA sentiram na pele a truculência que se imaginava extinta com o fim dos anos de chumbo. Eles foram impedidos de realizar o evento pela segurança do local, que sustentou o seguinte argumento burocrático: a falta de autorização.
A exigência descabida revela a rudez de gestores públicos que confundem escritores, músicos e poetas com "desordeiros". A grosseria dessa interpretação equivocada causa tamanho mal-estar na sociedade que alguns podem pensar que não vivem na terra da liberdade. É pra evitar que tal impressão se propague que entra em campo um time de profissionais de imprensa. Formadores de opinião e peças-chaves da engrenagem de poder, eles se esmeram na tarefa de mitigar os fatos, transferir culpas e livrar o Executivo de suas responsabilidades. E quando nada disso resolve, é hora de usar a tática da omissão. Ela funciona da seguinte forma: o jornalista finge que não soube do acontecimento ou se limita a registrá-lo sem emitir juízo de valor.
Encerrada a participação do suporte intelectual, as apostas se concentram na breve memória do povo. Logo o assunto cai no esquecimento sedimentando a versão de que tudo não passou de um mal entendido. E se porventura for questionada a humilhação imposta aos poetas na Cobal, dirão que os mesmos são inconsequentes, pois num ato involuntário transgrediram os frágeis limites da democracia aparente de Mossoró.
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