terça-feira, 22 de maio de 2012

Para os tempos de agora


Por Genildo Costa.*
Quando as nossas possibilidades de se fazer do tamanho que queremos se esgotam, o jeito mesmo é apostar na máxima de Nelson Rodrigues. Para esses tempos de agora, é muito provável que a unanimidade aconteça na sua totalidade. Estamos bem perto de um novo embate que pode acontecer no campo das ideias ou mesmo no campo dos interesses particulares. Até então ouço vozes que sequer atentam para uma discussão em torno das aspirações do baixo clero. Trato assim, pois tenho dúvida quanto ao fazer político de nossa contemporaneidade.

Insisto em não acreditar na expressão 'toda unanimidade é burra'. O momento é por demais oportuno para se pensar em fazer o mínimo de esforço a fim de se entender o fazer político desses tempos de agora. Quero me antecipar em dizer com convicção de que não será nunca a unanimidade burra. Da forma como procedem os protagonistas da política provinciana, salvo raras exceções, predomina o tamanho da vontade de continuar freqüentando com assiduidade os mais renomados templos consumistas do capitalismo selvagem. Seria então nessas vitrines que acontecem os mais absurdos expedientes da nossa cultura política.

É como se tudo girasse em torno de nossas vaidades. Qualquer atalho da política tupiniquim pode apontar para os espaços apropriados para uma possível sedução da alma. Dificilmente nesses tempo de agora se consegue pautar a agenda do cotidiano com interesse em fazer valer as virtudes socráticas, isto é, tratar a política enquanto ferramenta imprescindível para a realização do bem comum. A temperança, a coragem e a sabedoria se diluíram tal qual sorvete no asfalto. As regras do jogo suscitam a voracidade. Na improvisação de cada passo, a dúvida quanto a permanência de nossa pulsação nesse tablado de completa desumana vulnerabilidade.

Para trás ficou quem reiteradas vezes cantou o chão de nossa casa. Agora percebi que a canção de Beto Guedes não quis dizer nenhum segredo. Apenas protagonizou o que só agora somos capazes de enxergar. Não precisou viver 200 anos. Anjos e demônios já se faziam desde os primórdios criadores e criaturas de uma seara de espetáculos, que se repetem a cada capítulo revelando a vil tragédia humana.

A unanimidade da maneira como tenho interpretado haverá de ser sempre um mal necessário. Para os defensores do modelo liberal do mundo globalizado,não se concebe a pseudo democracia dissociada da mercantilização da consciência de nossos trabalhadores.

Assim sendo, fica sob a responsabilidade do mercado a tarefa de reunir todos os mecanismos para nos tornarmos cada vez mais frágeis às tentações de tantas vitrines , que de vez em quando resolvemos contemplar. Queiramos ou não, os vencidos dessa unanimidade torpe nada mais representam senão a sua mais sincera leviandade em se ver tal qual o outro, que também pactua com os mesmos sentimentos de posse e de falso altruísmo.

É questão de posse. É a articulação em defesa não mais do coletivo. O 'salve-se quem puder'. A revelação mais nítida de que de perto não há a mínima condição de normalidade. Que venha então o prenúncio do apocalipse com suas revelações necessárias. Indispensáveis, pois, para entendermos com clareza a unanimidade servil e profana desses tempos de agora.



* Genildo Costa é poeta e cantador. Atualmente também está à frente da direção da FM educativa de Icapuí-CE.












Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre Genildo..alguém p/ falar a verdade....

BELISSIMO
VERDADEIRO
HONESTO
VOCÊ É O CARA ....

SE ALGUEM ENTENDER O QUE VC DISSE ...ACHO QUE VAI SE TOCAR E FICAR UM POUCO COM DE CABEÇA...MAS....

XAU