Por Genildo Costa*
Costumo
dizer que o senso comum às vezes nos ajuda a compreender situações
que estão intrinsecamente ligadas ao cotidiano de nosso povo. Assim
sendo, fico cá com meus botões matutando pra de vez em quando
assumir acertos e equívocos quando o tema é a partidarização de
nossos interesses e sentimentos.
Diria que
aos meus olhos nada de novo. Nada! Insisto em continuar não
acreditando na pirotecnia da política rasteira e leviana. Como
sempre, farto da palavra vazia e não muito crédulo para com os
pretensos domadores da próxima cena da política tupiniquim.
Decerto, virá a mesma alegoria, para um cortejo de pouca ou de
nenhuma inovação no que diz respeito às transformações
possíveis. Se nada foi alterado e tudo foi acontecendo gradualmente,
sem a percepção dos serviçais da corte, é claro, que não é hora
de se fazer vitrine para o embate vindouro.
Não se
faz necessário. Sabe-se que pra se chegar bem próximo da fronteira
desse oásis basta regar com cuidado e zelo que tudo pode acontecer.
O triunfo da ociosidade, a ausência de interesses pelas coisas
relacionadas à discussão política incomoda a alguns e acomoda os
senhores da Casa Grande e Senzala. Pois, as estratégias que
continuam em vigor desde o nascedouro parecem intactas. Consolidadas.
Sem que ninguém ouse em contrariar os interesses do príncipe na sua
voracidade.
Nada por
acaso por essas terras de maresia abundante. Nada mesmo! Tudo
acontece a partir do grau de resistência de seus mais ilustres
compatriotas. Por exemplo: como pouco evoluímos no que tange a
formatação de ideias eminentemente políticas, acabamos nos
tornando vulnerável àquela concepção de que uma mão lava a
outra e as duas lavam a cara. Para um bom entendedor,mais que um
ensinamento,ou seja, vai ao tablado para o embate quem pode. Quem tem
papel bordado, quem sabe manusear com inteligência a tarefa de
mercantilização das cabeças ocas de nossa pátria mãe gentil.
Continuamos
os mesmos. Atentos, tão somente às regras normativas do pão e
circo. Nada de conspiração. Apenas o silêncio na sua
imparcialidade. Tocando a diante.Puxando pra debaixo do tapete os
que tombaram de overdose porque não conseguiram se superar. Segue,
portanto, a marcha dos mutilados. Alguns, com muitas dificuldades, se
projetaram no seu próprio exílio e deram demonstração de que é
possível acontecer à distância. Sem apadrinhamento.
Por esses
terreiros, sucumbem os mais incautos. Os de parcos recursos. Frágeis
e mutilados vão se dissipando como andróides que não mais
encontrarão a máscara de sua última cena. Perderam-se e não se
encontraram enquanto havia tempo. Agora, a tarefa é, acima de tudo,
o ofício de remover os escombros. O que não serve mais. Que não
fique Para depois da última hora a sensação de que perdemos de
vista a odisséia que jamais retornará pelos mesmos atalhos. Nesse
compasso de espera prossegue a passos lentos quem nada teve que
inventar. Pois que reinventar é subversão dessa ingênua capacidade
de não se alcançar o que, verdadeiramente, podemos ser na sua
totalidade.
Aprendemos,
enfim, a conviver em harmonia com nossos algozes. Eles venceram e o
sinal está fechado e, certamente, vai continuar fechado. Não se
sabe até quando. Bem provável que na pauta do dia seguinte ainda
tenhamos que suportar, por mais uma vez, a farsa que sobrevive e se
alimenta de todas as dores para jamais pensar em pactuar com essa
vontade excessiva de se querer tentar saltar os muros desse nosso
mundo tupiniquim.
* Genildo Costa é cantor e poeta.
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