Por Genildo Costa.*
Como se não bastassem as inúmeras tentativas de que tenho feito para continuar transitando diuturnamente nesse universo, que elegi para viver condignamente, agora me chega de súbito uma outra prerrogativa, diria não muito relevante para com a minha singular maneira de ser e de estar.
Confesso que não ando muito otimista com o que vejo e nem tampouco com essa grande possibilidade de perdermos a noção do ridículo. Pois, a moldura exposta não deve por muito tempo saciar-se de sua própria imagem. Tão opaca quanto a mais perversa submissão que paira sobre os cristais de nossos eternos e infinitos devaneios. Que seja assim, detentora de muitos artifícios para continuar alimentando, até enquanto houver resistência, os vermes que decompõem em vida verdades e mentiras de tua alcova.
Para além de minha aura que estejam somente as minhas sinceras e eternas convicções de não poder jamais prescrever o antídoto desse receituário, que me rouba o sossego e me tira a paz que um dia tive que buscá-la em um lugar qualquer de meu imaginário. Tão doutrinário e tão fugaz é a tua servilidade. Não creio mais naquilo que se publica e que até então se apresenta com tamanha notoriedade. Faço e refaço como se fôssemos tal qual os alquimistas na sua particularidade de reinventar a mais inovadora terapia assentada sobre os pilares da razão profana e da fé que sonhei um dia em alcançá-la. Pereço e retorno o percurso, mesmo que tardiamente. Assim, insisto em viver intensamente o mais sublime momento de depuração de minha alma pagã.
Suponho os céticos tragando seus louros e lírios. Não mais atentos aos sussurros da ágora. Em transe. Fugaz e leviano. Inconsequente. Quieto e felino quando monitorado pela sua condição de não mais ser sujeito. Para trás, as cores vis do arco-íris. As nossas eternas e memoráveis lembranças não mais palpáveis tal qual as cores de outrora. Prossigo em mar revolto e esta nau de meus sonhos não consegue deixar a certeza de que na brevidade de meu momento derradeiro possa aquietar-me desse pesadelo insano. Trágico e sobretudo necessário para esses meus últimos dias, que teimam em continuar me consumindo sem que eu possa sequer construir a minha legítima e singular defesa.
Refaço os planos e por mais sereno e altivo que possa parecer não há como negar a cara pálida que denuncia e proclama permanentemente o porvir. Não importa. Que venha na hora que achar oportuno. Sem muita pressa. Não esqueça de trazer consigo o que restou dos velhos temporais, que tanto nos ensinaram a tocar adiante todos esses momentos que construímos juntos, quimeras e devaneios.
Aos sábios e encantadores deve-se o tributo de não mais tê-los por sobre os varais de nossa lira, que tão pouco foi executada na sua plenitude. Que não paire a dúvida, pois nesse diapasão de rara beleza encontro a sagacidade de vozes dispersas traçando os caminhos que jamais irei seguir.
Parto a sós. Leve e soberano. Infalível. Aprendiz dessa arte genial de viver compulsivamente todos os partos que se converteram em dores universais. Domadas ou não, são dores que silenciam nas calçadas e se diluem pelas sarjetas, dificilmente sendo extraídas das retinas de teus olhos lenitivos para encarar mais uma jornada de manhã cinzenta. Para tão farta mesa, não ouço sinais de chamamento para celebrarmos, aos olhos do dragão voraz, a partilha, o amor, a solidariedade, o abraço sincero, a comunhão como gestos de grandeza e sabedoria!
*Genildo Costa é cantor e compositor.
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