Artigo de Crispiniano Neto publicado na Coluna "Prosa e Verso" do Jornal de Fato em 06/02/11*
"Mossoró é hoje uma cidade proporcionalmente mais violenta que Natal e Fortaleza. 15 assassinatos em pouco mais de trinta dias, desde que uma mossoroense assumiu o poder estadual. Obviamente que não cabe culpar Rosalba Ciarlini por este descalabro, se bem que se lhe pode imputar a culpa de nunca ter feito a parte do Município, jogando sempre pra cima a culpa por todos os problemas de Mossoró, ao mesmo tempo em que ganhava a glória por tudo que foi feito com dinheiro estadual e federal. Mas... Como estamos dizendo aí na notinha da saúde abaixo, também na questão da violência, podemos dizer que acabou o tempo de jogar a bola pra cima. Chega de ter defuntos estaduais e federais, mesmo sabendo-se que se morre no município... Quero focar é num aspecto que está acima dos poderes de Rosalba, de Fafá e quiçá, da própria Dilma Roussef, pois que Lula, mesmo com seus 87% de aprovação ao fim de oito anos não conseguiu dar conta de resolver a parada. É a violência institucionalizada que se arraigou nas entranhas do tecido social brasileiro e hoje mata de maneira banalizada, fora de qualquer controle e até mesmo acima da lógica terrível da violência. Já não se trata de cangaço, de pistolagem, de guerra de coronéis do passado ou de gangues e comandos do crime organizado do presente. A violência, tanto quanto a corrupção tornou-se sistêmica. Quase não se consegue mais distinguir as duas. O bandido solto e o cidadão preso nas grades da residência e do escritório ou no vidro fechado do seu carro têm uma relação figadal, visceral com o aparelho policial corrompido. Traficante e policial corrupto transitam de mãos dadas "no meio dos homens de bem/cruzando as ruas da vida/matando ou roubando alguém". O mais grave de toda essa guerra suja, é que nesta semana, Mossoró viu tombar quatro jovens assassinados. E como se sabe, não há política pública para jovem em Mossoró. Mesmo tendo sido criada uma secretaria ou coisa que o valha, parece que não foram dadas as condições para a coisa sair do papel. No Estado, a mesma coisa. No plano federal, a ação é muito recente e ainda não fez o efeito necessário. Os jovens, em geral estão sendo adotados ou passíveis de o serem, pelos traficantes. É ali que eles encontram uma tribo social, uma identidade, um espaço para gastarem suas energias e se afirmarem como gente. Gente do mal, por que não? E é ali que encontram também a areia movediça da sua destruição moral, psicológica, política e por fim, física. Como se não bastasse a falta de políticas públicas, as famílias, em sua maioria, perderam o rumo da história e já não cumprem mais seu papel de educar, de formar, de conduzir o jovem pelos intrincados caminhos da vida até o dia da sua emancipação quando eles se tornam chefes de novas famílias e vão cumprir o mesmo papel na reprodução dos valores sociais e culturais. Mas, como esperar de jovens mal conduzidos na vida em décadas recentes que agora consigam conduzir bem seus filhos que são filhos também da vida de drogas e da droga de vida que levam. E como se não bastasse a falta de política pública e o esgarçamento do papel social da família, também já não temos movimento estudantil digno desse nome, nem movimento cultural. Tampouco o trabalho de formação cristã com a pujança que tiveram pastorais, como a da Juventude do Meio Popular. Hoje só se fala de reza. Reza vazia, perdida na busca do céu sem entender a realidade da vida. Diferentemente do que fez Cristo quando veio ao mundo. A mídia por sua vez não forma nem informa, deforma. Gerações de videotas "educados" por Xuxa, Ratinho e Sérgio Malandro estão aí prontos para por em prática ou ver com naturalidade os tiros e cacetadas de Tom & Jerry a Rambo, passando pelo Pica-pau e pelas videocassetadas do Faustão e o besteirol do Big brothers. E assim nossos jovens estão morrendo. A prazo, no cano do cachimbo, ou à vista, literalmente à vista de todos, pelo cano do revólver, crucificados entre o tráfico de armas e as armas do tráfico."
* Crispianiano Neto é poeta e jornalista.
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