O vereador Marcos Bizerra participou esta semana do blog enviando comentário para esclarecer o motivo pelo qual não concorrerá à reeleição em outubro próximo. Dado o teor explicativo da nota e alguns temas por ela suscitados, achei por bem transcrevê-la na íntegra para maior conhecimento dos leitores. A mesma segue reproduzida logo abaixo:
"Amigo,
Sempre que possível leio seu blog, e ainda que naturalmente discorde de alguns comentários, sempre os respeito.
Quanto a minha decisão de não mais concorrer a uma vaga na Câmara municipal, não se dá em virtude de nenhuma pendência na justiça eleitoral, mas sim, por ter assumido um compromisso com a escola em que estou lotado, pois hoje estou como vice-diretor num mandato de dois anos. Doutro modo, teria que me afastar, e as condições que a escola enfrenta não permite.
Quanto a ser "Ex-primeiro-ministro" de Grossos/RN, isso seria NO MÍNIMO menosprezar a capacidade intelectual de João Dehon em administrar - fato que até bem pouco não era questionado inclusive pelos seus que votou, trabalhou na gestão e na época defendia com afinco (???!!!!).
Estou muito curioso para saber qual será a posição da corrente da qual se filia diante do quadro sucessório. Ao que parece ser atirar para todos os lados e no fim, neutralidade. Essa sim, muito cômoda.
Abraços. "
Antes de mais nada, quero agradecer a intervenção do parlamentar, que sempre será bem-vinda neste espaço. Fico lisonjeado em saber que vez ou outra um público tão seleto acompanha as atualizações dessa página. Mas, voltando ao comentário em si, acredito ser necessária uma breve explicação sobre o uso do termo "Ex-primeiro-ministro" para qualificá-lo, o que farei a seguir:
Da experiência parlamentarista
Sabe-se que no Brasil o parlamentarismo foi adotado duas vezes, uma ainda no Segundo Reinado de Dom Pedro II ("parlamentarismo às avessas") e a outra em agosto de 1961, quando Tancredo Neves então assumiu o posto de Primeiro Ministro da República.
Mas isso é o que diz a história oficial e a sua versão nem sempre corresponde à realidade dos fatos. Prova contundente dessa premissa é que, à revelia dos registros históricos, muitos outros 'primeiros-ministros' haveriam de figurar mais tarde no cenário político do país. Só para não voltar tanto assim no tempo podemos citar os casos de Zé Dirceu no governo Lula, Gustavo Rosado na Prefeitura de Mossoró, Carlos Augusto na gestão Rosalba e, por que não, Marcos Bizerra, o super secretário, no governo João Dehon.
E a experiência parlamentarista de Grossos não diminui a capacidade intelectual do ex-prefeito petista. A meu ver, em determinado momento do seu mandato ele apenas fez uma escolha, 'essa sim, muito cômoda': preferiu ser uma espécie de 'relações públicas' e deixou o governo aos seus cuidados, professor. Só isso. Ora, o próprio Lula não contabilizou prejuízos à sua imagem de gestor capaz devido ao poder e influência que Dirceu desfrutava na Casa Civil.
Ademais, o sistema de governo vislumbrado pelos grossenses entre 2001 e 2004 fez sucesso. Ganhou adeptos e seduziu até os adversários. Tanto é assim que Veronilde copiou a iniciativa, investindo na mesma função o seu irmão 'Galego'.
Das impossibilidades.
É mister destacar outros pontos importantes do comentário supratranscrito. Há nele elementos para abordarmos duas impossibilidades. A primeira é humana, científica até, uma vez que Marcos e João não são uma única pessoa e, portanto, há grandes chances de suas ideias e opiniões serem diferentes. Ainda que fossem gêmeos univitelinos ou clones, não conseguiriam unificar fielmente o pensamento.
Nesse caso, acredito que em algum momento o nobre edil questionou a administração do primo, afinal capacidade de ninguém está acima de questionamentos. E isso ele deve ter feito mesmo votando, trabalhando na gestão e defendendo-a com vigor. Eu também fiz tudo isso, vereador, mas a defesa veemente não se confunde com a anuência absoluta. E a grande questão aqui discutida se resume ao seguinte: as minhas divergências eu assumo publicamente enquanto o senhor só revela as suas ao sabor das conveniências políticas. É uma pena que você não estivesse presente nas raríssimas oportunidades em que dirigi a palavra à João, pois do contrário o debate de agora já teria ocorrido a mais tempo.
Mas há que se ressaltar também a segunda impossibilidade, que é lógica, matemática. De acordo com a lição do professor Mário Sérgio Cortella, a neutralidade política rima com omissão. Ela só existe enquanto mentira. E não se definir por candidato algum é manter o jogo político inalterado, o que do ponto de vista matemático beneficia o favorito da disputa. Logo, declarar-se neutro é sempre ficar do lado do mais forte, do vencedor, o que não é do meu feitio. Há vinte anos venho repetindo minhas escolhas políticas nas eleições municipais de Grossos, muito embora elas não anulem o meu pensamento crítico. Este ano será do mesmo jeito, tomarei partido no embate eleitoral, mas preservarei minha postura de independência. Só espero tê-lo respondido satisfatoriamente, professor, pois não é justo que fique 'curioso' por mais tempo.
Dos 'tiros' para todos os lados.
Quando alguém critica outro a mensagem pode ser interpretada de várias formas pelo destinatário dela. Ele pode entendê-la como um ponto de partida para um reflexão inadiável ou repudiá-la tal qual uma ofensa grave. Ao classificá-las como 'tiros', vejo que o ilustre representante da oposição se filiou à segunda opção. É incrível como a mentalidade política do grupo do qual faz parte estacionou no tempo. É similar a dos seus adversários, guardando em si uma espécie de ranço político medieval. Mas, paciência. Província é assim mesmo, fazer o quê?
Da ênfase.
Caro leitor, se você conseguiu chegar até este parágrafo, parabéns! Espero ter sido claro e enfático em relação aos meus pontos de vista, embora não faça uso constante de tantas exclamações e letras garrafais para realçá-los. Obrigado pela leitura e um grande abraço a todos.
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