Texto de Millôr Fernandes*.
I. Um homem que mente e diz que mente, mente ou não mente? Se diz mentira quando que mente, também não mente;
II. Vantagem extraordinária é a do mentiroso. Enquanto os outros sabem apenas o que sabem, ele sabe sempre alguma coisa a mais;
III. A mentira é a mais-valia arrancada da credulidade. Já que a mentira só existe quando há um crédulo. Pois ao cético ninguém mente, já que ele não crê na verdade;
IV. O que vive repetindo a palavra indubitável é, indubitavelmente, um mentiroso;
V. Mentimos mesmo quando estamos sozinhos;
VI. Jamais diga uma mentira que não possa provar;
VII. Uma mentira é a do que mente. Outra é a do escutador;
VIII. É inútil apontar alguém como mentiroso. Todo mundo é;
IX. Desenvolveu tanto a arte da mentira que todos acreditam nele. Ele é que não acredita em mais ninguém;
X. A inverdade, apanhada na hora, chamamos de mentira deslavada. Um ano depois será considerada apenas uma outra faceta da verdade. Se persistir na memória...um século depois já ninguém saberá quem disse e ela será parte fundamental da sabedoria popular, se transformará em fantasia, em ode, em épico, quem sabe em conceito geral da eternidade filosófica?
* Publicado originalmente na Veja de 05/10/2005 e também na revista Filosofia Ciência & Vida, edição de maio de 2012.
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