quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Pra depois do carnaval...

Para os que não conseguem ingressar nessa arena, que se repete, todos os anos, à beira mar desse nosso litoral de cores vivas e de poesia expressa, certamente, terá todo tempo necessário para escrever o seu mais belo poema pra depois do carnaval. Assim seja, pois, está em curso nesses dias de muita folia e de cenário apoteótico todas as máscaras de uma pseudo elite que jura, de pés juntos, está surfando por sobre as ondas desse temporal que arrasta, impiedosamente, a nossa juventude para um caos sem precedentes.

Para cada noite, um ensaio. Um mergulho profundo numa noite cinzenta, interminável.O libera geral traz consigo a credencial de que tudo pode. Basta querer e olhar do lado e sem muito esforço de consciência notar que somos os mesmos e as aparências aqui, sim, enganam. O receituário dessa nova temporada de verão nos faz crer, claro, que a onda rola de acordo com o grau de aceitação. Se há consenso é porque estamos, queiramos ou não, dentro do mesmo pacote de absolvição dessas coisas que invade o nosso litoral. Há tempo pra tudo. Se as coisas caminham na mais absoluta normalidade, então, façamos de conta que somos, verdadeiramente, atores protagonizando riso falso.

Pactuando ou não, há um status quo predominante. Um jeito de ser. Uma fala polida. Uma grife da moda. Um andar cadenciado. O desfile na passarela. A culinária que inova, o cartão de crédito no limite, enfim, fiquemos atentos. Parece ser só o começo de uma nova civilização. Se estamos sempre na moda por que não adotar, de cara, sem preconceito, as palavras de ordem: beber,cair,levantar? É só bater palmas que dá ibope. Assim, estamos sob o signo de uma nova linguagem musical. Com esssa performance, acredito que ficou muito mais fácil de se alcançar o grau de evolução humana a partir de um critério único: me diz o que ouves que eu direi quem tu és.

Assim procede os tambores da arena.Enquanto o espetáculo acontece, na sua plenitude, a casa alpendrada não tem pressa para fazer funcionar o oráculo do zodíaco. Todos os cavalheiros estão a postos e não há necessidade, no momento, de atalhos. Resta, aos pastoradores dessa arena insana, prudência quanto a formatação dessa legião de andróides que vagueia pelos becos estreitos dessa nossa aldeia em festa. Prudência, sim, é a palavra de ordem, pois aos interesses da classe dominante, todo cuidado necessário e sapiência para com a pedra bruta que rola às escadarias da ignorância e vai desaguar, sem dúvida, no terreiro da política leviana e inconsequente.

Sob esse céu de anil, todos os prognósticos apontam para um calendário de colheita farta. Pois aqui, ainda se trata de cuidar de uma fase muito delicada dessa semeadura: entregar o produto acabado. Completo. Rotulado. Esculpido, sem deixar aparecer nem um pouquinho da argamassa que trouxe consigo os ingredientes básicos dessa nova composição da ontologia contemporânea: apatia e aversão. Ferramentas imprescindíveis para a consolidação desse colonialismo provinciano tão secular quanto às bençãos de Iemanjá por essas plagas de mar bravio.


Por Genildo Costa, cantor e compositor.


2 comentários:

Anônimo disse...

valeu cara vc tem a originalidade nos seus comentário, sua maneira única de externar suas notícias e parábulas. parabéns, vc não apareceu no retiro em!

Geova Costa disse...

Grande Genildo Costa! que sempre sob a luz da razão, demonstra a força da palavra como a expressão eterna dos que acreditam no sonho ainda inacabado e comprometido por essa nova geração. Genildo, um escritor, um poeta, um compositor, um companheiro, um sonhador ...um irmão!
PARABÉNS!