O ingresso na política requer certo heroísmo.Isto porque não deve ser fácil sobreviver em ambiente tão inóspito. Nesse mundo paralelo, são poucos os que resistem com honestidade. Por conseguinte, prevalece hoje a escassez de bons políticos, que se deve em parte à dificuldade que as pessoas de boa índole tem para integrar o universo de poder. A maioria delas não consegue transpor a porta de acesso, pois não dispõe de capital. No Brasil, pouco importa o debate acerca dos programas de governo, o que se discute mesmo são as cifras milionárias para se chegar ao poder. E depois da ascensão eleitoral, resta o acerto de contas. Não com o povo, é claro. Mas com quem doou recursos para a campanha.
Neste cenário, a política tupiniquim se encontra fortemente marcada pela promiscuidade entre o público e privado. Por isso, há tempos está engessada por um processo de empobrecimento qualitativo de seus representantes. Não evolui nem apresenta novos nomes capazes de ensejar mudança. Essa realidade tem vitimado a esperança de muitos brasileiros. É o que se verifica no pronunciamento do senador Pedro Simon (PMDB-RS), cujo trecho está transcrito abaixo. Parlamentar de larga experiência, Simon deixou transparecer toda sua frustação com a política e não consegue recomendá-la sequer aos filhos! Leia o texto a seguir e confira mais um triste relato da política brasileira:
"Lá no Rio Grande do Sul, não estou conseguindo candidato a Deputado. Os caras não estão querendo, não aceitam. Um grande amigo meu é brilhante médico, um excepcional cardiologista de nível internacional. Ele construiu o Instituto de Cardiologia, o Hospital São Francisco. Eu lhe disse: Tu tens de ser candidato. Ele me perguntou: Mas, Simon, para quê? Tenho condições de fazer alguma coisa positiva? Minha vida inteira, compus um nome, para, daqui a 24 horas, sem eu ter o direito de fazer nada, ele ser lançado ao ar?. O que vou responder? E, se digo o mesmo a um jovem brilhante, que tem destaque na sociedade, que é o primeiro aluno da turma, que é excepcional, ele vai dizer: Mas, Senador, não tenho um tostão. Como é que vou fazer campanha se não tenho absolutamente nada de nada, de nada, de nada?.
Então, é difícil. Estou achando, realmente, muita dificuldade. Se me perguntarem : o senhor aconselha alguém a entrar na política? Direi: Eu aconselho. E repetem: mas o senhor aconselha isso do fundo do coração? Direi: não. Do fundo do coração, não aconselho. Tirei da cabeça dos meus filhos a ideia de serem políticos. Isso não foi fácil, mas não deixei que entrassem na política. Minha vida foi tão ingrata, a luta foi tão cruel, que meus filhos estão seguindo suas profissões. Não os deixei entrar na política. E, com toda a sinceridade, não me arrependo disso, porque, hoje, é preciso ser herói. É preciso ser herói."
* Discurso do senador Pedro Simon proferido em 02/12/2009, no auge das denúncias de corrupção contra o governo do DF. Para ler a íntegra, acesse www.senado.gov.br.
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