domingo, 3 de janeiro de 2010

Morosidade







Ano novo, velhos problemas. As imagens ilustrativas deste comentário bem que poderiam ser tristes lembranças de anos pretéritos. Mas não o são. Elas retratam o presente que insiste em se vincular ao passado pela inoperância do poder público, por vezes traduzida na demora excessiva em se resolver problemas relevantes da comunidade. E a necessidade de se construir um abatedouro público em Grossos tem esbarrado exatamente nessa morosidade. Mais de dois anos se passaram desde a liberação de R$ 146.250,00 destinados a execução da obra e ela nem sequer iniciou. Enquanto isso, continua sendo rotina o abate de gado em condições insalubres,ficando a carne exposta ao lixo, fezes de animal e moscas. Como se percebe, não convém falar em higiene precária, seria um exagero de nossa parte. Mais prudente às circunstâncias é afirmar que naquele local não há qualquer traço de higiene e, por isso mesmo, a realização da obra é uma questão de saúde pública. Afinal, nos referimos a alimento para o consumo humano, razão pela qual atribuo urgência à execução do projeto.

Acontece que na prática a agilidade do poder público não costuma obedecer ao Princípio da Celeridade da Administração, pelo menos em relação a determinados fins. Este postulado defende a execução dos atos administrativos em tempo razoável com o intuito de bem atender aos anseios da população. Entretanto, ele pode trilhar caminhos diversos, a depender dos interesses de quem governa. É o caso de se aplicar a máxima popular dos dois pesos e duas medidas. Me reporto, na verdade, à aquisição de um carro no valor de 116 mil reais para o gabinete do prefeito. Para este fim, não houve maiores obstáculos. Praticamente não se discutiu a exorbitância do valor nem surgiram entraves burocráticos ao pedido do executivo. Tudo feito quase que automaticamente. No entanto, se o assunto é de importância para o povo, aí sim advém a lentidão burocrática prejudicando quem não pode aguardar. Atente que não questiono aqui a necessidade de troca do veículo anterior (o valor é discutível), mas a rapidez com essas propostas se concretizam quando comparadas àquelas de real interesse público, como a do matadouro. Observe que o mesmo princípio administrativo não se aplica às duas situações, estando a saúde pública fadada a uma espera impiedosa. Sobre essa demora, a prefeitura se manifestou afirmando ter havido incidentes no processo licitatório. Segundo declarações do prefeito em programa semanal de rádio, a empresa vencedora do certame desistiu de realizar a obra porque julgou defasados os valores de sua execução. Porém, não seria o prazo superior a dois anos suficiente para sanar essa dificuldade?

De todo modo, creio que também há nessa discussão um componente revelador do conformismo das pessoas. Infelizmente a cultura local é a da aceitação, o povo se acostumou com o pouco que lhe é oferecido e esse comportamento dá suporte ao tipo de dominação ao qual se submete. De tão perceptível que é, essa realidade se fez resumir nas breves palavras de um dos homens que trabalhava naquele local impróprio. Ao dizer que “o povo de Grossos é acomodado”, se referia à passividade política dos seus conterrâneos. Sinceramente, faço votos de que essa frase traga consigo uma reação, um caminho para a mudança de atitude através da identificação da causa. Ao mesmo tempo, receio que as palavras daquele homem se convertam em sentença capaz de vitimar mais gerações, condenando esta terra a um futuro não condizente com a bravura de quem a quer sempre melhor.








2 comentários:

Lênin Tierra disse...

Reproduzo abaixo comentário feito pelo webleitor Erialdo:
"Até quando o nosso Município vai pagar o preço da irresponsabilidade, da maldade, da falta de compromisso. Onde estão os valores que regem pelo bem comum? Como vamos desenvolver uma cidade quando tratamos o povo que mora nesta da maneira como podemos observar nas fotos deste blogger. Até que ponto ou até que dia iremos ter que suportar tamanha humilhação que se repete a cada instante, a cada momento, seja pelo descaso do matadouro, seja por outras ações que existem e fere a soberania, a democracia de nosso povo de nossos irmãos e irmãs grossenses."

Anônimo disse...

Isso e uma VERGONHA!! sem palavras, as fotos e a prova