segunda-feira, 4 de julho de 2016

O real da ficção

Por Genildo Costa.

Não ousaria, jamais, apresentar o que penso, o que acho das coisas de tudo que já foi dito em belíssimas retóricas. Nas conversas de botequins, nos momentos solenes de rigidez protocolar. Enfim, por esses corredores de nosso cotidiano onde tudo é possível por mais que tentemos evitar a insensatez dos mais sensatos, aparentemente.

Ouço de tudo. Nada, nada me comove. Apenas tento apreender e comigo fica alguns instantes vividos e, de repente, esqueço, literalmente. Acho que exercitar o passado excessivamente é tornar-se, naturalmente, surreal e repetitivo. Guardo lembranças sem que seja necessário tratar de todas as memórias. Pra cada calendário uma nova roupagem, um novo figurino. Uma fala de persuasão altiva. Fugaz. É a face mais sombria e terrível de quem se fez signatário de sua decrepitude, infelizmente. Diz-se que quando não nos reconhecemos como sujeito de nossa caminhada acabamos pedindo os passos alheios para completar o que resta do percurso. É o que ora espreito nesses fatídicos dias que virão impávidos e de profundo desrespeito aos reais valores de nossa autêntica e respeitável cultura popular nordestina.


Aos comedidos e tão bem postados à cena seguinte, a convicção de que as vozes de infinita incompletude têm o destinatário das esquinas da cidade. São os mesmos transeuntes, carregando por sobre os ombros a desesperança, frustrações, devaneios, desencantos. Uma babel, a serviço dos espetáculos e da pirotecnia que confunde e deforma facilmente uma legião de andarilhos (presa fácil) dos mais ignóbeis e farsantes cooptadores de uma geração que não consegue lembrar mais onde deixou, pela última vez, o clichê de sua identidade.

Não importa, jamais, os dedos que me apontam quando as luzes desses estábulos estão acesas, definitivamente. Diria que essa é a expressão dominante, talvez, com raras exceções. Arte é essência, compromisso. Não pactua com futilidades, e, nem tampouco, se submete aos critérios da sutil e vulgar inspiração. É o que ainda consigo enxergar. Nada de excepcional quando tudo parece ser tão claro e tão Visível aos olhos dos mais inquietos compatriotas. Conclamar, emitir recados, estender a mão e lembrar de quem nunca ficou de vir é ter a certeza de que ainda vamos persistir, por muito tempo, tentando fingir que é possível sobreviver sob o signo da piedade.

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