Por Genildo Costa.*
Como todos os dias, vejo cenas repetidas de um mesmo teatro que não
suporto mais encará-lo de frente. Por mais que seja real, devo dizer de
meu ceticismo,ou melhor, de minhas dúvidas que atormentam as noites de
minha solidão. Não costumo até então guardar comigo confetes para
alimentar a vaidade de quem quer que seja. Deve ser por conta dessa minha
ausência nos espaços de glamour que hoje pago um preço altíssimo em
continuar defendendo intransigentemente a liberdade de manifestação da
palavra, mesmo sabendo que aos loucos pelo menos persiste o direito de continuar
sonhando. Quando não mais prestar para sonhar sonhos possíveis, remeterei a
mim mesmo uma carta suicida, e farei de meu silêncio o instrumento para
denunciar os meus devaneios e utopias vãs.
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
A qual, era do Brasil.
Por Jessier Quirino.*
Cortam coqueiros que dão coco
Alagam fontes murmurantes
Poluem rios e o mar
Fecham as cortinas do passado
Jogam a mãe preta do cerrado
Nunca se cansam de roubar
Ah! Era um Brasil lindo e trigueiro
Riqueza, tanta riqueza...
Será que dá pra acabar?
No caminho que caminha,
Escreveria Caminha:
Em se roubando tudo, dá.
Jessier Quirino* é um poeta paraibano.
Cortam coqueiros que dão coco
Alagam fontes murmurantes
Poluem rios e o mar
Fecham as cortinas do passado
Jogam a mãe preta do cerrado
Nunca se cansam de roubar
Ah! Era um Brasil lindo e trigueiro
Riqueza, tanta riqueza...
Será que dá pra acabar?
No caminho que caminha,
Escreveria Caminha:
Em se roubando tudo, dá.
Jessier Quirino* é um poeta paraibano.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Coração de firma bate forte no Natal.
Por Rubem Braga*.
"Comprem, comprem!" A publicidade faz sua grande farra de fim de ano, e nós é que devemos pagá-la. Uma garrafa de uísque deixa de ser uma garrafa de uísque, é um mimo envolvido em cores mil, cercado de frases festivas e exclamações: assim todas as coisas perdem seu ar honesto, afetam uma alegria sem graça.
E a burguesia faz surrealismo sem o saber. Que existe de mais louco do que receber votos de Feliz Natal e Próspero Ano Bom não de uma pessoa, mas de uma firma comercial, um banco, um ser jurídico? Não é o homem de empresa que nos saúda alegremente, de cristão para cristão; é a própria sociedade anônima que se faz afetuosa, que exprime os bons sentimentos que empolgam seu espírito de estatuto ou sua alma de balancete. É, digamos, a Coperval S.A., uma senhora visivelmente lírica, amante de legendas douradas sobre fundo azul, com uma letrinha sentimentalmente inclinada para a direita, flores e anjos, sinos a badalar. O coração da firma está batendo de afeto.
Dezembro, 1988.
* Rubem Braga foi um dos maiores cronistas brasileiros. O texto da postagem é um excerto da crônica Águas de Leste e Papai Noel contida no livro Um cartão de Paris (1997).
"Comprem, comprem!" A publicidade faz sua grande farra de fim de ano, e nós é que devemos pagá-la. Uma garrafa de uísque deixa de ser uma garrafa de uísque, é um mimo envolvido em cores mil, cercado de frases festivas e exclamações: assim todas as coisas perdem seu ar honesto, afetam uma alegria sem graça.
E a burguesia faz surrealismo sem o saber. Que existe de mais louco do que receber votos de Feliz Natal e Próspero Ano Bom não de uma pessoa, mas de uma firma comercial, um banco, um ser jurídico? Não é o homem de empresa que nos saúda alegremente, de cristão para cristão; é a própria sociedade anônima que se faz afetuosa, que exprime os bons sentimentos que empolgam seu espírito de estatuto ou sua alma de balancete. É, digamos, a Coperval S.A., uma senhora visivelmente lírica, amante de legendas douradas sobre fundo azul, com uma letrinha sentimentalmente inclinada para a direita, flores e anjos, sinos a badalar. O coração da firma está batendo de afeto.
Dezembro, 1988.
* Rubem Braga foi um dos maiores cronistas brasileiros. O texto da postagem é um excerto da crônica Águas de Leste e Papai Noel contida no livro Um cartão de Paris (1997).
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