Ao menestrel e parceiro Gonzaga de Areias.
Por Genildo Costa.*
Sempre tive interesse em conhecer de perto pessoas de atitude. Algumas até surpreendem mais que outras. Evidentemente que somos imprevisíveis, queiramos ou não. Vez em quando dou de cara com quem na mais tenra idade conseguiu definir-se para este mundo de tamanha vulgaridade.
São quase sempre os mesmos quereres. As mesmas cantilenas. Raramente algo de inovador acontece nesse tão antigo e surrado expositor de peças de sedução diminuta. É claro que é nesse tabuleiro onde o belo e o inconsequente passam muitas vezes despercebidos.
Mesmo assim se fez sonoridade e canção. Não só compasso e nem tampouco a cadência intimista naquela tarde. Era a gestação da palavra em forma de música de rara execução. Uma possibilidade talvez de não mais ter que disfarçar o sorriso ingênuo tão presente na expressão viva de sua simplicidade. Mais que isso, diria que a construção do belo sempre esteve muito distante de nossas vaidades e muito próximo das coisas que não conseguimos materializar juntos.
Penso em não querer versar sobre a nossa possibilidade de entender as inúmeras canções que tivemos que lapidar com cuidado. Algumas até se dissiparam. Creio que não mais estão entre nós. Seguiram por percurso que desconheço. Devo um dia buscar motivação para encontrá-las e saudar a mais bela estrofe. Reinventar o riso quando a dor se emancipar de cada lágrima contida em versos que tive que suportá-los.
Decidi guardar comigo os racunhos onde estão expostas a caligrafia e a concretude de credencial inigualável, pois algumas vezes denunciamos juntos o prazer de cantar coisas da alma da gente. Até então o belo nada mais era do que a consistência de uma melodia. E não havíamos tido o tempo necessário para acreditar que a vida é muito mais que a tua voz gravada numa lâmina de vinil. E acontecemos assim. Distantes sem que o paradeiro de outras canções pudessem tratar de redimir a nossa máxima culpa de não poder superar todas as adversidades.
Para alguns, o contraditório. O intransitável. O paradoxo que não tem explicação. A rebeldia em carne viva que se autoflagela e perde o prumo e não mais encontra o caminho de retorno à morada antiga. Para o belo,não mais a superficialidade que me importa, pois o que interessa é poder minimizar o sentimento de perdas irreparáveis. Foram tantas e não mais quero ter que buscar na fugacidade de minhas vagas lembranças a complexa tarefa de compreender a omissão da retórica perdida. Nesta sempre existirá a esperança de viver intensamente a legitimidade do belo, e isso nos dá a dimensão exata do inconsequente e sua vulgaridade por sob esse céu cor de anil.
*Genildo Costa é cantor e compositor.
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